Capítulo II: O Mapa do Século e os Corações de Rubi
O tempo passou no reino, e a promessa de enfrentarem os medos juntos encontrou seu primeiro desafio: a distância. Terrivelmente precisou se recolher em sua própria caverna, que estava em ruínas e precisava ser pintada e reconstruída. Ele vivia entre caixas e poeira, lutando para criar um lar digno. O silêncio, às vezes, pairava sobre a floresta.
Estela, contudo, aprendeu que uma governante não espera sentada na janela da torre. Enquanto Terrivelmente cuidava de suas paredes, Estela decidiu cuidar de seu Império. Ela se recolheu em sua biblioteca mágica, consultando oráculos modernos e traçando diretrizes para um futuro distante, o ano místico de 2026.
Ela estudava as artes da Imagem e da Estratégia. Vestia-se com armaduras invisíveis de serenidade, polia suas unhas como cristais e ouvia cânticos sagrados (Gita) ao amanhecer. Ela descobriu que sua vida, por si só, já era um reino vasto e fascinante.
Mas, num dia de sol a pino, enquanto se alimentava, a saudade de Terrivelmente bateu em seu peito. Não era uma saudade triste, de quem mendiga atenção. Era uma saudade nobre, de quem tem tanto ouro que deseja compartilhar.
Estela pegou um pergaminho em branco e canetas de luz.
Ela não escreveu uma carta de súplica. Ela desenhou um Mapa.
Com traços firmes, ela desenhou o futuro. Marcou a rota para as montanhas de Barbacena, onde passaria a virada do ciclo vestida de branco e calçando sapatos da cor do fogo. Marcou suas missões de curadoria real, onde cuidaria da arte de outros mestres. Desenhou a si mesma, grande e forte.
E, num canto do mapa, desenhou uma carruagem cheia de parentes, avisando que passaria perto das terras dele, mas que sua missão familiar a impedia de parar. Era um aviso elegante: "Estarei perto, mas estarei inacessível."
Antes de enviar o mapa através dos ventos mágicos, ela gravou sua voz num feitiço sonoro.
— Veja — disse ela, com a voz segura de quem sabe o que quer. — Este é o meu século. Meus planos são perfeitos. Mas sinto que falta a peça principal: você. Não sei como encaixá-lo nessa minha realidade vasta, mas o desafio está lançado.
Assim que o feitiço foi enviado, um pequeno guardião apareceu na parede do castelo: um Soldadinho, um inseto de armadura preta e branca, mensageiro da Natureza. Ele trazia o sinal de que Estela estava protegida e pronta para saltar para novos destinos.
Terrivelmente, lá de sua fortaleza em obras, recebeu o mapa e a voz. Ele parou de pintar as paredes. Ele olhou para o desenho, viu o nome dele num coração pequeno no canto da folha, e entendeu. Aquela não era mais a menina insegura da floresta. Aquela era uma Mulher que desenhava a própria vida.
Ele não tinha palavras complexas naquele momento, pois estava coberto pela poeira da reconstrução. Mas, do fundo de seu peito, ele enviou a resposta mais sincera que um guerreiro de poucas palavras poderia dar.
Ele enviou dois Corações de Rubi. ❤️❤️
E uma breve mensagem de admiração em sua língua antiga: "Que bakana".
Estela recebeu os rubis. Ela não pediu mais. Ela não exigiu textos longos.
Ela sorriu, entendeu que o amor também se manifesta na admiração silenciosa, e foi dormir.
O mapa estava entregue. O espaço ao lado dela estava desenhado.
Agora, cabia a Terrivelmente terminar sua obra e caminhar até o lugar que estava reservado para ele no Século dela.
E Estela, feliz, dormiu mais que a própria cama, certa de que seu reino estava em ordem.
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Mesa aberta